Santa Inês vive mais um capítulo da sua história recente mergulhada na lama da corrupção. O que antes circulava em bastidores e relatórios sigilosos agora ganha o crivo da Justiça: Felipe dos Pneus, prefeito da cidade, foi oficialmente transformado em réu por crimes de desvio de recursos públicos e formação de quadrilha. A decisão foi consolidada na manhã desta segunda-feira (4), pela 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Maranhão, marcando um divisor de águas na política local — e possivelmente no futuro político do próprio estado.
A Ação Penal Ordinária nº 0821514-38.2024.8.10.0000 não é apenas mais um número perdido em meio à burocracia judicial. É o símbolo de uma engrenagem de poder que, segundo investigações do Ministério Público, atuava com meticulosa precisão para sugar milhões dos cofres da prefeitura de Santa Inês. O relator do processo, desembargador José Nilo Ribeiro Filho, votou pela procedência da denúncia, já em sessão anterior, e agora foi acompanhado por seus pares, os desembargadores Maria das Graças Amorim e Nelson Pereira, selando o destino processual de Felipe de Carvalho — o "dos Pneus" — e mais 13 denunciados.
Entre os acusados, figuram empresários, parentes e operadores diretos do prefeito. Destaque para os empresários Welker Carlos Rolim (Plano Construtora) e Antônio Francisco Rocha de Abreu (Droga Rocha), além da irmã e o pai do prefeito, Thalihina e Antônio Barbosa de Carvalho, respectivamente. O nível de proximidade dos envolvidos com o núcleo do poder municipal evidencia o caráter sistêmico do esquema — uma verdadeira organização criminosa estatalizada, com tentáculos fincados nas licitações, contratos e até na distribuição de medicamentos.
Uma quadrilha institucionalizada, segundo os termos do MP, que operava com a frieza de quem se sente intocável. Provas telemáticas, cruzamento de movimentações financeiras e delações traçam o mapa da corrupção, ao qual as defesas responderam com narrativas frágeis e tentativas de desacreditar provas. Nada convenceu os desembargadores. A força dos elementos colhidos, somada à reincidência do prefeito em escândalos anteriores, pesou na balança.
Felipe dos Pneus, vale lembrar, já foi afastado do cargo duas vezes. Mas sempre retornou ao poder, blindado por decisões jurídicas e o silêncio de parte da classe política. Desta vez, porém, a Justiça apertou o cerco com mais firmeza. O julgamento marca o início de uma nova fase, que pode culminar na inelegibilidade do prefeito, em sua prisão e, inevitavelmente, no desmoronamento de um grupo político que se sustenta na compra de aliados e no uso predatório da máquina pública.
O nome da operação que deu origem à denúncia remete às tríades chinesas, não por acaso. O paralelo traçado pelo MP busca justamente ilustrar o tipo de organização: sofisticada, hierarquizada e focada em delitos de colarinho branco. Se antes Santa Inês era vista como uma cidade em crescimento, hoje se torna o retrato escancarado da degeneração política que ainda impera em muitos municípios brasileiros.
O que está em jogo, mais do que o destino de Felipe dos Pneus, é a possibilidade de refundar a política de Santa Inês. O caso já repercute na Assembleia Legislativa e pode respingar em nomes de peso que, até aqui, fizeram vista grossa ao projeto político do agora réu.
Previsão: o castelo de pneus está para desabar
Se a Justiça mantiver a linha dura e a sociedade civil se mobilizar — como já começa a acontecer —, o futuro de Felipe dos Pneus poderá não passar das manchetes judiciais. A eleição da sua esposa que tenta sonha com uma vaga na assembleia legislativa com intuito de defender o marido e seu pseudo l gado, esse é assunto para outra reportagem, ou mesmo sua permanência no cargo, torna-se politicamente insustentável. O desgaste é profundo, e aliados começaram a abandonar o barco.
Em tempos em que o povo exige mais transparência e ética, Santa Inês pode ter um papel emblemático: mostrar que o poder não é eterno e que o uso criminoso da política pode — e deve — ser punido exemplarmente.
> "A impunidade não é mais garantida, nem mesmo para quem governa cercado de aliados e dinheiro público", disse um dos promotores envolvidos no caso, sob anonimato.
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