A cidade de Santa Inês vive uma crise silenciosa, mas de consequências potencialmente devastadoras. Desde fevereiro deste ano, mais de 20 agentes de endemias foram demitidos em um movimento abrupto e pouco transparente, deixando centenas de domicílios sem cobertura sanitária e escancarando uma gestão marcada por improvisos, interesses eleitorais e negligência com a saúde pública.
A ausência dos agentes, que já vinha sendo sentida há anos por moradores de bairros como Vila Olímpia, Palmeira, Sabbak e outros, tornou-se ainda mais crítica. Entrevistas com residentes revelam que há casas que não recebem visitas há mais de cinco anos. A situação é alarmante: sem a presença desses profissionais, o combate ao mosquito _Aedes aegypti_ — transmissor da dengue, zika e chikungunya e o mosquito flebotomia ou mosquito palha— praticamente desapareceram em diversas regiões. E não só isso: o avanço do calazar, doença grave transmitida por cães infectados, ganha terreno diante da ausência de controle da população canina de rua.
Uma gestão inchada e sem rumo
A máquina administrativa de Santa Inês, segundo denúncias recorrentes, foi inflada com contratações sem concurso ou processo seletivo. Muitos desses agentes de endemias atuavam com salários abaixo do estipulado pela portaria normativa federal, e sua função real, segundo relatos, era servir como cabos eleitorais durante a campanha municipal de 2024.
Em janeiro de 2025, a prefeitura lançou uma campanha midiática de combate ao mosquito_Aedes aegypt , com direito a vídeos nas redes sociais e visitas pontuais em bairros estratégicos. Mas a ação não passou de maquiagem: enquanto a “fumacinha” era exibida online, bairros inteiros continuavam sem cobertura sanitária.
Demissões em massa e silêncio oficial
A situação explodiu quando o Ministério Público exigiu ajustes nos gastos públicos, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal. A resposta da prefeitura foi imediata — e brutal: mais de 20 agentes foram demitidos, muitos deles informados de forma informal, sem aviso prévio ou justificativa oficial. Tentativas de diálogo com a Secretaria de Saúde e o prefeito foram ignoradas.
Enquanto isso, documentos públicos revelam que alguns agentes que não estão enquadrado nos agentes de endemias e sim de zoonoses ainda na ativa recebem acima do teto legal no valor de mais de R$ 7.000,00. O contracheque publicado por este blog mostra valores incompatíveis com a legislação vigente, levantando suspeitas sobre a falta de transparência no portal da prefeitura.
Concurso ou cabide eleitoral?
A prefeitura anunciou a realização de um seletivo para recompor o quadro de agentes. Mas paira a dúvida: será um processo legítimo ou mais uma manobra para acomodar aliados políticos? O prefeito, agora réu em um processo que o acusa de chefiar uma organização criminosa e desviar R$ 55 milhões dos cofres públicos, aposta na eleição de sua esposa como tábua de salvação política — e, quem sabe, jurídica.
A população, por sua vez, segue sem respostas. O Ministério Público deve ser alertado para acompanhar de perto o seletivo, garantindo que os aprovados sejam, de fato, agentes de endemias e não cabos eleitorais disfarçados.
O risco invisível
Enquanto a política se sobrepõe à saúde, Santa Inês se torna terreno fértil para arboviroses e zoonoses. A ausência dos agentes não é apenas uma falha administrativa — é uma ameaça direta à vida dos moradores. O mosquito não espera por edital, e o calazar não respeita calendário eleitoral.
A pergunta que ecoa pelas ruas da cidade é simples e urgente: onde estão os agentes de endemias? E mais importante: quem vai garantir que eles voltem a proteger Santa Inês — e não apenas a campanha de quem está no poder?
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