Um dia após a decretação de sua condição de réu – ao lado do pai, da irmã e de outros onze aliados – por organização criminosa, corrupção e o que mais couber na lata de lixo da política maranhense, o prefeito de Santa Inês, Felipe dos Pneus, começa a experimentar o gosto amargo do isolamento. Não apenas o institucional, mas o mais cruel: o da traição dos que até ontem comiam à sua mesa.
No mundo político – esse mesmo onde abraços e punhaladas nascem do mesmo gesto – os sorrisos se retraem e as raposas saem da toca com fome. Roberth Bringel, suplente de senador e líder de um clã que sempre soube farejar o poder como poucos no Maranhão, já se movimenta com a destreza de quem sabe que o fim de um império é o início de outro. E neste caso, o trono não está vazio: está apenas estremecido, e ele quer puxar a cadeira.
As sombras da vingança e a dança das cadeiras
A família Bringel, aliada de Felipe, já opera nos bastidores como se a queda fosse favas contadas. Promessas de cargos, encontros discretos e palavras de ordem como “reconstrução” e “redenção” soam entre quatro paredes. O eco é claro: a era Felipe pode estar chegando ao fim.
O mais simbólico, porém, não é a debandada dos aliados – comum em tempos de crise –, mas o requinte calculado da vingança. Vianney Bringel, esposa de Roberth, foi alvo direto de Felipe dos Pneus no passado, acusada publicamente de desviar milhões e de deixar os cofres da prefeitura em frangalhos. A ferida foi funda. E agora, quem se fere é ele.
Na política, papa se come fria – e pelas bordas
Vingança é um prato que se come frio, dizem. Para os Bringel, é uma papa que se come pelas bordas. Estratégia não falta. Com Jucelino Filho (sobrinho) e Luana Resende (irmã) como peças e envolvidos até o pescoço em disputas eleitorais, Bringel sabe que o xadrez exige paciência e precisão. Até mesmo a primeira-dama Paula Prata entrou no jogo: não foi citada formalmente no processo, mas fontes apontam que tinha conhecimento – e benefícios – das atividades criminosas do marido.
A política do Vale do Pindaré virou palco de uma novela onde o roteiro é escrito por quem mais engana. E nessa peça, Felipe dos Pneus pode acabar como o protagonista... do último capítulo. Entre a ameaça do afastamento judicial e a corrosão política, resta ao prefeito tentar sobreviver à tempestade que ele mesmo ajudou a formar.
O teatro dos bastidores e o trono de Santa Inês
O que está em jogo não é apenas a cadeira de prefeito, mas o controle de um território estratégico do Maranhão, onde a política se confunde com os sobrenomes. A cada dia, o cerco se fecha mais: delações, escutas, denúncias... e a movimentação ensaiada da velha raposa, que mesmo sem mandato oficial, nunca deixou de mandar.
Para Bringel, tomar de volta a prefeitura de Santa Inês é mais que um retorno ao poder: é a chance de lavar a honra da família – ainda que ela própria esteja suja de outras águas. Afinal, como diria Boechat, “nada é tão cínico quanto um político falando de ética”. E Santa Inês que o diga.
A queda de Felipe dos Pneus pode não vir apenas das mãos da Justiça. Pode vir da traição que só a política sabe orquestrar com maestria. E o povo? Este assiste de camarote, mais uma vez, ao espetáculo do poder pelo poder – enquanto espera, quem sabe um dia, ser o protagonista de uma nova história.
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