Por trás dos discursos de renovação e promessas de moralidade, o que se desenha no cenário político maranhense é uma verdadeira genealogia da corrupção. O prefeito de Santa Inês, Felipe dos Pneus, e seu declarado “espelho político”, o ex-prefeito de Caxias e atual secretário estadual de Agricultura, Fábio Gentil, protagonizam um roteiro que mistura idolatria, influência e escândalos em série — com direito a sogras, namoradas e familiares como coadjuvantes de luxo em uma rede de desvio de dinheiro público.
Felipe dos Pneus: De aprendiz a réu-chefe
Eleito em 2020 com discurso de mudança, Felipe dos Pneus não escondeu sua admiração por Fábio Gentil. O que parecia uma inspiração administrativa virou uma espécie de iniciação criminosa. Em 2023, Felipe foi afastado do cargo por decisão judicial no âmbito da Operação Tríade, que revelou um esquema de desvio de R$ 55 milhões dos cofres públicos de Santa Inês⁽¹⁾. A denúncia, aceita pela Justiça, transformou o prefeito e outros 13 envolvidos — incluindo seu pai e irmã — em réus por fraude em licitação, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
O modus operandi incluía empresas de fachada, contratos superfaturados e servidores comissionados que garantiam a aparência de legalidade. O prefeito, segundo o Ministério Público, era o chefe da quadrilha. E como se não bastasse, articula nos bastidores a candidatura da esposa a deputada estadual, numa tentativa de blindagem política e perpetuação do poder
Fábio Gentil: O mestre da duplicação do modelo
Enquanto Felipe aprendia, Fábio Gentil já colecionava investigações. Alvo da Operação Lei do Retorno, o ex-prefeito de Caxias é acusado de desviar cerca de R$ 50 milhões do Fundeb⁽³⁾⁽⁴⁾. A Polícia Federal aponta que ele e sua namorada, a deputada estadual Daniella Jadão Cunha, foram beneficiários diretos do esquema, que envolvia contratos direcionados, propinas e lavagem de dinheiro.
A PF identificou que o dinheiro apreendido em um carro — R$ 575 mil em espécie — seria entregue a servidores que repassariam os valores a Fábio e Daniella. O veículo estava registrado em nome da mãe da deputada, e o transporte da quantia era feito por seu tio. O pai da parlamentar também teria recebido R$ 170 mil em repasses ilegais.
Corrupção hereditária: Quando o crime é coisa de família
O que une Felipe e Fábio não é apenas a política — é a institucionalização da corrupção como projeto familiar. Em ambos os casos, familiares diretos estão implicados: pais, irmãs, sogras, namoradas. A deputada Daniella, além de namorada de Fábio, é apontada como peça-chave no esquema. Seu pai, mãe e tio aparecem como beneficiários ou facilitadores das operações ilegais⁽⁵⁾.
No caso de Felipe, sua irmã e pai são réus no processo. E há indícios de que sogras e companheiras também tenham se beneficiado de nomeações e contratos suspeitos⁽¹⁾⁽⁷⁾.
A política como lavanderia
O que se vê é a transformação da política em lavanderia institucional. Licitações viram fachada, cargos públicos viram moeda de troca, e o poder é usado como escudo contra a Justiça. A tentativa de lançar familiares em cargos eletivos é mais do que ambição — é estratégia de sobrevivência.
O Maranhão como laboratório da impunidade
O caso Felipe-Fábio escancara uma verdade incômoda: no Maranhão, o crime político não apenas se repete — ele se herda. A corrupção deixou de ser exceção e virou tradição. E mesmo aqueles que negam envolvimento, como Daniella e Fábio, não conseguem explicar como seus familiares acumulam bens, contratos e cargos sem qualquer transparência.
A Justiça avança, mas lentamente. Enquanto isso, os investigados seguem em cargos públicos, articulando candidaturas e distribuindo favores. A pergunta que fica é: até quando o Maranhão será refém de dinastias políticas que tratam o dinheiro público como herança privada?
Se você achou essa reportagem forte, espere até vermos os desdobramentos judiciais. Porque quando a política vira negócio de família, o povo é quem paga a conta.
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